No dia mundial de combate à Tuberculose apresento um artigo que fiz em 2022 com um resumo das necessidades apresentadas pela OMS para Laboratórios de pesquisa de TB.
Laboratórios de alto risco de TB (laboratório de contenção da TB)
O termo laboratório de contenção de TB refere-se a instalações que possuem as características mínimas de projeto necessárias para manipular culturas de TB de forma segura. Este tipo de instalação pode ou não cumprir todos os requisitos de um laboratório de Nível de Biossegurança NB3, como descrito no Manual de Segurança Biológica em Laboratório da OMS. Todas as instalações laboratoriais devem cumprir a regulamentação local e nacional. As recomendações descritas neste manual são os requisitos mínimos necessários para limitar ou reduzir os riscos de infecção em laboratórios que realizam procedimentos específicos e considerados de alto risco de disseminação de TB. Outras medidas podem ser necessárias, dependendo da avaliação de riscos especifica para o local. Os laboratórios de risco alto de TB (também conhecidos como laboratórios de contenção de TB) que cumprem os requisitos mínimos de segurança biológica descritas neste capítulo são os que trabalham com grandes volumes e concentrações de organismos M. tuberculosis e que envolvem procedimentos que apresentam um risco maior de dispersão de aerossóis. Os laboratórios de risco alto de TB podem: – manipular culturas para identificar M.tuberculosis; – manipular culturas ou suspensões de bacilos de tuberculose para todos os métodos de testes de sensibilidade indiretos e testes moleculares.
Fatores que aumentam o risco de infecção
Além dos riscos descritos no Capitulo 4 para laboratórios classificados como de risco moderado e dos riscos em geral mencionados nas medidas de biossegurança descritas no Capitulo 2, os laboratórios classificados como de risco alto de TB (ou de contenção) enfrentam também os seguintes desafios, que aumentam os riscos: – os técnicos tem de abrir frascos com culturas positivas; – os técnicos tem de preparar esfregaços a partir de culturas positivas; – a extração de ADN deve ser feita a partir de culturas positivas; – manipulação de culturas para identificação e teste de sensibilidade indireto; – descarte de recipientes quebrados com culturas; – descontaminação de culturas ou áreas onde ocorreram derramamentos.
Características específicas e medidas de biossegurança necessárias
Assim como no laboratório de risco moderado, ha dois níveis de contenção num laboratório de risco alto de TB: a CSB (contenção primaria) e o próprio laboratório (contenção secundaria). Num laboratório classificado como de risco alto, todos os procedimentos de manipulação de culturas viáveis de M. tuberculosis e suspensões aquosas de bacilos de TB para identificação, teste de sensibilidade indireto e testes moleculares devem ser realizados dentro de uma CSB, num laboratório de contenção de TB. Além dos elementos de segurança necessários para um laboratório de risco moderado, um laboratório de risco alto (ou de contenção de TB) requer as seguintes melhorias adicionais.
Projeto do laboratório:
É essencial a existência de porta dupla de entrada para criar uma antecâmara para o laboratório de contenção. Ela deve ser projetada para proporcionar uma barreira física entre a secção de contenção e as partes externas do laboratório. Além disso, também permite um fluxo de ar unidirecional para dentro do laboratório. A antecâmara deve ter um local separado para vestuário usado e limpo. As portas da antecâmara devem fechar automaticamente e estar interligadas, de modo a que só se possa abrir uma porta de cada vez. A antecâmara poderá também contar com um painel quebrável para ser utilizado como saída de emergência. O ar pode fluir para dentro do laboratório de contenção através da antecâmara; grelhas adaptadas com pré-filtro podem ser colocadas na parte inferior das portas da antecâmara para garantir a manutenção do fluxo de ar limpo para dentro do laboratório de contenção. Deve ser instalado um painel de vidro que permita ver o laboratório de contenção a partir das áreas externas do laboratório .
Descontaminação e descarte de resíduos:
Deve existir uma autoclave disponível nas proximidades do laboratório de contenção, para permitir a esterilização de tubos e frascos contendo culturas do bacilo de TB, antes da sua remoção do laboratório para o descarte. Todos os outros resíduos infecciosos que tenham de ser removidos do laboratório de contenção para descontaminação e descarte final devem ser transportados em sacos de plástico ou recipientes selados, que obedeçam aos regulamentos locais . Qualquer material reutilizado deve ser descontaminado com um desinfetante adequado ou auto clavado, antes de ser removido do laboratório .
RECOMENDAÇÃO DO GRUPO DE PERITOS
O Manual de Segurança Biológica em Laboratório, da OMS2, recomenda que os laboratórios de contenção sejam vedados, de modo a que possam ser descontaminados por fumigação. O Grupo de Peritos considera que não é essencial que o laboratório de contenção de TB tenha que ser selado para descontaminação, uma vez que as partículas infecciosas de bactérias que foram ressecadas sobre superfícies têm pouca probabilidade de aerossolização .
O Grupo de Peritos, portanto, concluiu que os procedimentos de descontaminação de superfícies são suficientes para os laboratórios de contenção de TB e que a fumigação do laboratório de contenção não é obrigatória .
Equipamentos de segurança
Com o objetivo de eliminar ou reduzir certos riscos nos laboratórios de TB, podem ser usados equipamentos de segurança. Contudo, o uso desses equipamentos não é garantia de proteção, a menos que o operador seja competente e utilize técnicas adequadas . Os equipamentos também devem ser testados periodicamente para garantir um desempenho seguro .
Câmaras de segurança biológica (CSB)
Devido ao seu tamanho diminuto, aerossóis de partículas nucleadas podem ser gerados durante alguns procedimentos laboratoriais, sem o conhecimento do pessoal do laboratório, resultando na inalação de agentes infecciosos ou na contaminação cruzada de bancadas ou de materiais . As CSB são projetadas para proteger as pessoas e o ambiente contra agentes infecciosos e, dependendo da sua classificação, oferecer níveis variáveis de proteção contra a contaminação para as amostras ou culturas . O filtro HEPA, instalado no exaustor das CSB, retém de forma eficaz organismos infecciosos conhecidos e garante que apenas ar livre de microrganismos seja lançado para fora da câmara . Um filtro HEPA instalado na CSB sobre a área de trabalho protege os materiais e a superfície de trabalho contra contaminações . A isso chama-se, geralmente, proteção dos produtos . Existem três classes de CSB: I, II e III (correspondendo aos padrões AS/NZS 2252.1:1994, AS/NZS 2252.2:1994, NSF/ ANSI 49 – 2008)18,19,20 . De acordo com a Norma NSF/ANSI 49 – 2008, as CSB Classe II têm vários tipos (A1, A2, B1, B2); estes são usados para classificar variações nos padrões de fluxo de ar, velocidades, posição do filtro HEPA dentro da câmara, taxas de ventilação e métodos de exaustão .
Escolher uma câmara de segurança biológica para um laboratório de TB
Os dois tipos de câmaras de segurança biológica (CSB) descritos abaixo são mais adequados para uso em laboratórios de risco moderado e de risco alto de TB (laboratórios de contenção de TB) .
Classe I
Este tipo de CSB proporciona proteção pessoal e ambiental, mas não oferece proteção dos produtos . Essa falta de proteção dos produtos pode contribuir para um aumento das taxas de contaminação, especialmente quando se prepara e inocula culturas liquidas.
Classe II.
A CSB classe II oferece proteção pessoal, ambiental e dos produtos e, no modelo A2, todos os dutos contaminados biologicamente estão sob pressão negativa ou estão cercados por dutos de pressão negativa . (Este é o tipo de CSB PREFERÍVEL) . As CSB classe II tipo A1 não são aconselháveis, porque os seus dutos podem vir a ficar contaminados e os seus “plenums” preenchidos com pressão positiva em relação a pressão da sala . As CSB Classe II tipo B1 e tipo B2 devem possuir dutos rígidos de exaustão para o exterior, o que significa que o sistema de exaustão do edifício deve corresponder de forma precisa aos requisitos de fluxo de ar especificados pelo fabricante, tanto para o volume como para a pressão estática . A certificação, operação e manutenção destes tipos de CSB são, portanto, mais difíceis e, por isso, não são recomendadas em quaisquer novos laboratórios de TB . As CSB devem ser equipadas com filtros HEPA, que obedeçam aos padrões internacionais (por exemplo, a norma europeia EN12469 ou a norma americana 49 NSF/ANSI, de 2008 . Para novas compras, recomenda-se as CSB Classe II tipo A2, com caixilho móvel .
Conexões com coifa
Com as CSB Classe II tipo A2, usa-se uma conexão com coifa (ver Figura 3) com saída para o exterior ou para o sistema de exaustão da sala [3]. Essa coifa e ajustada a saída do exaustor da CSB, aspirando o ar da câmara e expelindo-o para a tubulação que leva para o exterior ou para o sistema de exaustão da sala [3]. Uma pequena abertura (geralmente de 5 cm) é mantida entre a coifa e a saída de exaustão da câmara [3]. Essa abertura permite que o ar da sala também seja aspirado e expelido pelo sistema de exaustão [3]. A capacidade desse sistema de exaustão deve ser suficiente para captar tanto o ar da sala como o ar do exaustor da câmara [3]. A coifa deve ser removível ou ser desenhada de modo a permitir testes de funcionamento da câmara [3]. De modo geral, o desempenho de uma CSB com conexão a uma coifa não costuma ser afetado pelas flutuações no fluxo de ar do edifício [3]. Uma das vantagens de se usar a conexão com uma coifa e que não são necessários ajustes na câmara e a pressão da sala será quase sempre constante [3].
Autoclaves
Nos laboratórios gerais de TB que efetuam testes de diagnóstico, a autoclave, que usa vapor saturado sob pressão, é o meio mais eficaz de esterilizar instrumentos, vidraria e soluções de meios de cultura; também e usada para descontaminação de materiais biológicos (como culturas de microbactérias) [3]. Dois fatores são essenciais para o perfeito funcionamento de uma autoclave: (1) todo o ar da câmara deve ser substituído por vapor; (2) a temperatura deve atingir 121°C [3]. As autoclaves devem ser colocadas longe da área principal de trabalho do laboratório, porque podem ser barulhentas, são quentes e liberam vapor [3]. Uma autoclave usada para descontaminar material infeccioso deve ter uma válvula exaustora de ar equipada com um filtro bactericida [3]. O filtro estéril da autoclave deve consistir num cartucho de filtro com uma membrana (tamanho do poro de 0,2 μm), incorporado numa estrutura resistente a pressão; o filtro deve ser de fácil substituição [3]. O filtro é automaticamente esterilizado durante o processo de esterilização [3]. Em cada local onde se realizem culturas de TB deve existir uma autoclave, que deverá ser colocada, de preferência, dentro do laboratório de contenção de TB [3]. As instruções do fabricante para operação e limpeza da autoclave devem ser sempre seguidas [3].
Fonte: MANUAL DE BIOSSEGURANÇA DA OMS PARA LABORATÓRIOS DA TUBERCULOSE
Transcrição: Francisco Hernandes
Revisão: Prof. João Camilo